A cúpula do G20, realizada recentemente no Rio de Janeiro, trouxe à tona debates cruciais sobre o futuro político e econômico da América Latina.
Um dos destaques foi a participação da Bolívia, que acaba de se tornar membro pleno do Mercosul e parceiro de diálogo do Brics.
O presidente boliviano, Luis Arce, aproveitou o evento para enfatizar uma nova perspectiva para a região:
A América Latina busca ser tratada como igual no cenário global, deixando para trás o papel de subordinação aos Estados Unidos.
Um novo contexto global
Em entrevista ao jornal O GLOBO, Luis Arce afirmou que o mundo está vivendo uma transformação significativa.
Segundo ele, “a posição dos EUA hoje é completamente diferente da de outras épocas”.
Essa mudança, de acordo com o presidente, está relacionada ao fortalecimento de blocos como o Brics, que agora inclui novos membros e reflete um cenário mais multipolar.
Arce destacou que a América Latina tem estreitado laços com potências como China e Rússia, diversificando suas relações econômicas e políticas.
Essa movimentação, segundo ele, desafia antigas dinâmicas de dependência e cria um ambiente de maior soberania para os países da região.
A volta de Trump e o impacto na América Latina
Questionado sobre a possibilidade de Donald Trump voltar à presidência dos Estados Unidos, Arce demonstrou cautela, mas afirmou que os tempos mudaram.
Ele ressaltou que a América Latina não aceitará mais ser vista como “o quintal dos EUA”.
Para o líder boliviano, “os países da região querem ser sócios e que sua soberania seja respeitada”.
Essa declaração ecoa um sentimento coletivo de insatisfação com políticas unilaterais historicamente adotadas pelos Estados Unidos em relação à América Latina.
Iniciativas no G20: combate à fome e tributação dos super-ricos
Luis Arce elogiou as propostas lideradas pelo Brasil na cúpula do G20, especialmente a criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
“Estamos há muito tempo lutando contra esses dois flagelos”, afirmou.
Para a Bolívia, esse tipo de iniciativa é crucial em um mundo marcado por crises econômicas e sociais.
Além disso, o presidente boliviano destacou que seu país já implementou um imposto sobre grandes fortunas, medida que ajudou a reduzir a desigualdade e melhorar a distribuição de renda.
A proposta brasileira de taxar os super-ricos foi, portanto, vista com bons olhos.
O papel do Mercosul e do Brics
A Bolívia ingressou recentemente no Mercosul como membro pleno, um processo que contou com o apoio direto do presidente Lula.
Arce destacou que essa inclusão representa uma oportunidade de fortalecer o comércio e a integração regional.
No âmbito do Brics, o presidente boliviano enfatizou a importância de participar de um bloco que representa a multipolaridade global.
Segundo ele, o Brics tem o potencial de articular políticas capazes de melhorar a qualidade de vida das populações dos países membros.
Perspectivas para a América Latina
A fala de Arce reflete um momento de transição para a América Latina, que busca se afirmar como uma região soberana e relevante no cenário global.
Com o fortalecimento de alianças econômicas e políticas, como o Brics e o Mercosul, a região caminha para construir relações mais equilibradas com potências tradicionais, como os Estados Unidos.
Ainda assim, desafios permanecem, especialmente em relação à política migratória dos EUA, uma preocupação para muitos países latino-americanos.
Arce acredita que uma abordagem mais respeitosa e igualitária pode abrir espaço para parcerias mais frutíferas no futuro.
Conclusão
A mensagem de Luis Arce é clara: a América Latina quer ser protagonista de sua própria história.
O fortalecimento de blocos como o Brics e o Mercosul, aliado à busca por políticas redistributivas e de respeito à soberania,
aponta para um futuro onde a região não será mais vista como coadjuvante, mas como parceira de peso no cenário internacional.
Com um tom firme e esperançoso, o presidente da Bolívia reafirmou que o mundo mudou e que a América Latina está pronta para desempenhar um papel mais relevante e independente.
Essa visão, compartilhada por outros líderes da região, sinaliza um novo capítulo para o continente.